MARGARIDA NASEAU, EDUCADORA POR AMOR
Hoje vamos refletircom vocês sobre esta pessoa maravilhosa e especial que foi Margarida Naseau. Sua figura instiga a todos e nos convida a debruçarmos nossas forças para poder conhecê-la melhor e perceber, assim, o quanto ela nos deixou de legado com seu exemplo de vida e de amor aos pobres, sendo a primeira Filha da Caridade. Ela foi um raio de luz que aqueceu o coração de outras jovens, as quais inspiradas em seus ensinamentos souberam doar-se também. Sua presença em nosso meio foi efêmera, como uma flor que desabrocha e murcha num espaço curto de vida, mas que,apesar do pouco tempo, deixou fixo em nossos olhos e em nosso coração a beleza das cores e do perfume que exalou enquanto esteve presente em nosso meio. Traremos alguns pontos interessantes sobre sua vida.
Seus pais, Leoufroy e Denise, tiveram seis filhos dos quais Margarida foi a mais velha, e eram pessoas muito religiosas. A família era pobre e camponesa, tiravam seu sustento de uma pequena vinha e de algumas cabeças de bois. Margarida com inspiração divina de “instruir a juventude”, sente em seu coração a necessidade de aprender a ler e escrever, e para isso era necessário adquirir uma cartilha, a qual conseguiu vendendo o pouco que tinha, uma dúzia de ovos.
Não sabendo ler, mas com determinação e disciplina,enquanto cuidava da junta de bois, ela perguntava àqueles que percebia possuir um pouco mais de estudo a pronúncia de algumas letras e palavras, dessa maneira ela poderia aprender a ler e escrever, e assim o fez. Autodidata, não guardava este conhecimento para si, mas passou a ensinar a outras pessoas na vila (homens, mulheres, crianças, jovens) em qualquer lugar que dispunha. Mesmo não sabendo o que estava construindo, criou uma rede de aprendizado, claro que não nos moldes que conhecemos hoje, mas na simplicidade, como uma rede de caridade onde aqueles que aprendiam ler e escrever com ela tinham a missão também de repassar este conhecimento a outras pessoas, não sendo egoístas e guardando somente para si este bem, que é o conhecimento.
Margarida sente-se fortemente impulsionada a doar-se aos outros: primeiramente, na instrução da juventude, e depois no serviço dos pobres doentes. Sensívelas necessidades dos outros, sente em si o desejo de entregar-se ao seu serviço. Temendo não ver claro, ela submete seus sentimentos ao discernimento de São Vicente e solicita seu conselho e orientação. São Vicente a escuta com respeito, percebendo nela o chamado de Deus a orientae a estimula. Escutemo-lo: “Padre, disse-me ela, aprendi a ler dessa maneira. Tenho agora grande desejo de ensinar ás outras jovens do campo que não sabem ler. Acha bom? Certamente minha filha, respondi, eu vo-lo aconselho” (SVP. Conf. de 25 de dezembro de 1648). Pelo simples gesto de ensinar, Margarida soube servir o próximo e nos ensina como devemos ser hoje em nossa missão de educadores e educadoras.
Amáveis e Pacientes:
São Vicente disse certa vez sobre Margarida: “todos gostavam dela, pelo fato de nada haver nela que não fosse amável”. Se em nossa vida conseguirmos tal amabilidade, como diria São Vicente as Irmãs: “Bendito seja Deus minhas filhas”, a transformação e a marca que deixaremos na nossa vida e em especial na vida das pessoas seria um sinal do amor de Deus em cada um de nós. E como seria diferente? Quem é amável tem uma paciência em lidar com as situações adversas e mesmo com as pessoas difíceis que encontramos em nossa vida ao longo da jornada. Certamente Margarida também encontrou muitas adversidades,como em certa vez conformecontou àLuísade Marillac que,depois de ter ficado sem alimento durante vários dias e sem ter coragem para partilhar a sua dificuldade com ninguém, ela voltando da missa encontrou comida suficiente para ampará-la por vários dias. Sua confiança em Deus a fez entregar-se totalmente a divina providência mantendo a calma e a serenidade.
Desprendidos/as e Disponíveis:
Movida por uma forte inspiração do céu, não tendo outro mestre senão Deus, teve a ideia de instruir a juventude. É uma verdadeira vocação de educador e uma vocação extraordinária e única: uma analfabeta com ideia de ensinar ajuventude!Acreditamos que existe aquialgo emocionante e já bastante vicentino. Para um certo número de educadores, pelo menos, aqueles que têm a vocação, o projeto mais generoso e mais altruísta é compartilhar o que têm. Mas, Margarida chega ao ponto de partilhar até mesmo o que não tem, ou pelo menos, não ainda. Realmente emocionante seu projeto, e aliás, profundamente vicentino, porque é primeiro e espontaneamente voltado para os outros, para os pobres. Ela não estudou para si mesma, ela quis aprender para ensinar a juventude. Remete-nos à ação do Senhor: “Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6, 34).
Zelosos/as pelos Pobres:
Inspirada nas ações de Jesus Cristo que foi ao encontro dos pobres, Margarida amou a todos/as e todos/as a amavam, porque não havia nela nada, nada que não fosse amável. Sua Caridade era grande; amava e cuidava dos doentes, abandonados, idosos e todos os pobres. Ela era desprendida, dava tudo quanto possuía até mesmo o que lhe era necessário. Fez de sua vida uma grande doação a Deus e aos que mais necessitavam. Ensinou, catequizou e a muitos curou de enfermidades, pestes e mutilados de guerras. Margarida corria pelas vilas de Paris, levando às costas um grande e pesado cesto de pães,preso por duas fortes alças,apoiadasa cada um de seus fortes ombros. Ela corria alegre em direção aos indigentes, pelas ruelas estreitas e sujas com toda espécie de lixo. Desce com dificuldade ao âmago dos imundos abrigos onde sofrem os pobres mais pobres. A vocação dela foisemelhante a de um cometa,brilhar intensamente, passar depressa pelo céu e deixar um rastro de luz.
Como educadores/as vicentinos/as somos convidados/as a sermos luz, principalmente para iluminarmos os caminhos dos Pobres, nossos senhores e mestres. Essa Jovem e simples Irmã nos ensina que, ao invés de desviarmos o nosso caminho quando encontramos um Pobre, devemos ir ao seu encontro com o coração impregnado de caridade e compaixão.
Qualidade do serviço:
Margarida se doa para o serviço dos outros com inteligência e respeito. Tinha consciência de que, servindo aos pobres, serve a Jesus Cristo e, por conseguinte, seu serviço deve ser de qualidade. Por isso, não empreendiasuas tarefas sem antes preparar-se para executá-las. Seu primeiro impulso, quando sentiu o desejo de instruir aos outros foi “preparar se para poder ensinar”. Não cabe dúvida que isso lhe sobrepôs muito sacrifício, tanto mais pois carecia dos meios normais de aprendizagem devido à sua condição humilde. Porém, como dizia nosso amado Fundador, “o amor é inventivo” Margarida soube dar um jeito e com um abecedário buscou pessoas paralhe ensinar a utilizá-lo, e dessa formaaprender a ler. Podemos imaginar que este proceder lhe exigiu muitos atos de humildade, pois tratava-se de um certo modo “mendigar “a sabedoria dos outros. No entanto,aceita passar por todos os sacrifícios e humilhaçõespor amor a Deus e respeito que merecem os pobres a quem desejavaensinar.
Dedicados/as:
Desde o momento que se apresentou ao Pe. Vicente em 1630 até sua morte dois anos mais tarde, ela deixou seu exemplo à outras jovens, no desejo de seguirem seus passos e de se consagrarem a Deus para o serviço dos pobres.A alegria e serenidade de Margarida diante da doença e da aproximação da morte, deixa-nos impressionadas 1 .
Hoje, cada membro pertencente à Comunidade Educativa em nossas Instituições é convidado/a a se inspirar na vida de Margarida para buscarem ser pessoas desprendidas de todo egoísmo, vaidade, orgulho, para se revestirem de todo amor, paciência, dedicação, disponibilidade, amabilidade e serem pessoas cuidadoras e zelosas pelos pobres e miseráveis de tantas formas de pobreza encontradas em nossa atualidade, seja corporal, espiritual ou vítimas de algum tipo de exclusão. Que nossas atitudes sejam desvinculadas de todo interesse pessoal, para simplesmente servir melhor e assim deixarmos também nosso rastro de luz, fazendo a diferença para as pessoas com as quais convivemos diariamente,seja na nossa família, com os nossos amigos e amigas de trabalho, as Irmãs, os educandos/as, educadores/as e colaboradores/as, com os quais temos a oportunidade de conviver.
Vivemos numa situação de crise onde constatamos um processo de profundas transformações. Muitas são as indagações que brotam da experiência dos pobres do nosso tempo. Inúmeras, são as sementes de vida e de esperança lançadas no nosso cotidiano, as quais ansiosamente, esperam o momento propício da germinação. Importa recuperar a gratuidade fundamental da nossa existência, expressão do dom livre e desinteressado de Deus. Discernir em cada situação a presença discreta de Deus que nos desafia e interpela. Ver as diferenças não como ameaça à unidade, nem como sintoma de uma comunhão perdida. Acolhê-las, ao contrário, como expressão da multiforme e fecunda graça de Deus. Não apenas suportá-las, numa atitude de indiferença, por vezes, reveladora de uma mera cumplicidade. Mas assumi-las como ocasião propícia para se deixar surpreender pelo Deus de Jesus. Isso só será possível se, sabiamente, aprendermos a suspeitar de nós mesmos e dos nossos próprios projetos e perceber que a diferença do/a outro/a, muitas vezes, pode se tornar oportunidade privilegiada de enriquecimento e de amadurecimento. Saibamos discernir, a exemplo dos nossos Fundadores e de Margarida Naseau “as sementes do Verbo”, a secreta presença de Deus no mundo moderno e nas demais religiões e culturas. Que estejamos abertos a promover, juntamente com todos os seres humanos de boa vontade, relações mais justas e fraternas, no respeito pela liberdade e dignidade de cada pessoa. Estamos imersos num mundo em constante transformação. Precisamos vencer o medo que paralisa nosso caminhar. Sejamos luz na vida das pessoas e que essa luz não fique escondida debaixo da mesa, mas seja colocada em local alto e amplo para iluminar a todo o ambiente em que estivermos presente. Que Margarida Naseau nos inspire nesta missão de educar.
1 Margarida Naseau impelida pela sua caridade heroica, recolheu uma mulher atacada da peste bubônica e instalou-a em sua própria cama. Ela própria foi infectada, sendo levada para o Hospital de São Luiz, onde veio a falecer, com 39 anos de idade, em 24 de fevereiro de 1633, vítima de seu amor aos pobres doentes.
Irmã Márcia Felipe Miranda, FC
Irmã Mônica Maximiano, FC
PASTORAL ESCOLAR VICENTINA 2016 – PROVÍNCIA DE CURITIBA FAZER O BEM! FAZER BEM!
Para aprofundarmos a reflexão:
1. Qual virtude de Margarida Naseau você escolheria para vive-la mais intensamente?
2. O que você destacaria da vida de Margarida Naseau?
3. Como pastoralistas, como posso partilhar com as outras pessoas a vida da Margarida?
Referências: BÍBLIA. Nova Bíblia Pastoral. São Paulo: Paulus, 2014. CONFERENCIAS DE SÃO VICENTE. GONÇALVES, M. E..Margarida Naseau: A primeira Filha da Caridade. Rio de Janeiro, 1991